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António Lopes diz que saída de Liliana Lopes se deveu a linha editorial do CBS e acusa “encomendadores de notícias” de lhe deverem mais de 232 mil euros

“A minha missão em Oliveira do Hospital está de alguma forma cumprida”

 

… António Lopes debruça-se sobre variadas áreas e não deixa de estabelecer um contraponto entre o executivo atual e o que o precedeu. Numa postura de “missão cumprida”, o autarca revelou ainda não estar disponível para uma recandidatura. Mas, assegura reconsiderar se tal decisão colocar em risco a recandidatura do atual presidente da Câmara Municipal, José Carlos Alexandrino.

Correio da Beira Serra – Decidiu fazer parte das autárquicas 2009, na condição de candidato à Assembleia Municipal (AM), com o objetivo de alterar o panorama a que se assistia a nível concelhio. O diálogo sempre foi uma das suas principais bandeiras. A meio do mandato qual o balanço que faz do caminho percorrido?
António Lopes –
A esse respeito, entendo que atingimos a normalidade democrática.. Se tivermos em conta o que se passou recentemente em relação ao processo da ESTGOH, na Assembleia Municipal extraordinária, para o efeito, vi e tive oportunidade de dizer que, independentemente daquilo que legitimamente divide cada força, a classe política de Oliveira do Hospital está de alguma forma identificada com aquilo que são os grandes projetos e desígnios do concelho. CBS – Quais as principais diferenças que encontra relativamente a um passado recente, em que o concelho era comandado pelo social-democrata Mário Alves, com quem chegou a estar incompatibilizado? António Lopes – Convém colocar aqui um ponto de ordem. Nunca estive incompatibilizado com o anterior presidente de Câmara Municipal (CM). A minha conceção da política é de que há adversários, não há inimigos. O senhor presidente da Câmara, a partir de um dado momento deixou de me dirigir a palavra. Só se fala com quem quer falar connosco… É legítimo que cada um defenda os seus princípios e objetivos, a sua forma de ver o problema. O que não é legitímo é transformar a divergência política em divergência pessoal… Eu nunca confundi as questões.

As diferenças são todas. Antes tínhamos uma forma autocrática de conceber a política. Hoje temos uma política que privilegia o consenso e o diálogo. A crispação que existia tinha essencialmente a ver com a prática existente de se responder o que convinha, a quem convinha. Já o padre António Vieira dizia que: “aos surdos fez Deus mudos, porque rebentariam de dor, se ouvissem e não pudessem responder”. No essencial, este era o problema. No meu caso concreto, pura e simplesmente, tentava ignorar-me. Ora, os deputados municipais têm direitos. Há leis que têm e devem ser cumpridas. As oposições têm direitos que estão consignados em lei. E o senhor presidente da CM responder a todas as questões que um deputado ou vereador da oposição lhe colocasse não era um favor, era um dever. Se tem presente, na primeira intervenção como presidente da AM eu assumi, perante os deputados, que nesta legislatura e comigo a presidente, todas as questões seriam respondidas.

Eu penso que o atrito acabou desde que se pôs em pratica esta forma de estar. Hoje, responde-se a tudo e a todos com clareza e transparência. Hoje, os deputados Municipais têm resposta concreta, clara e objetiva a todas as questões que são colocadas. Não há rodeios, não há fugas como me acontecia a mim. Também é bom que se diga que a partir do momento que começaram a surgir os problemas internos do PSD, – a meu ver, o executivo municipal não estava sintonizado com o partido que deu a cara e a bandeira nas eleições – eu entendi que havia alguma falta de legitimidade e, por isso, cheguei a dizer que o poder estava usurpado. Se reparar eu deixei de ter essa atitude a partir do momento em que, nas mesmíssimas condições ou muito parecidas, o anterior presidente foi a eleições. Eu continuo a discordar da forma, mas, hoje a questão está legitimada pelo voto. O povo é soberano e esse votou PSD naquelas condições e com aqueles candidatos, resta-me respeitar. Passou a ser um problema interno do partido. Para mim, uma vez sufragada pelo voto, a situação passou a estar legitimada.

CBS – Só pelo diálogo alcançado entre todas as forças políticas já valeu a pena abraçar este projeto político?
AL –
Penso que sim. Em meu entender, hoje temos um clima e uma vivência democráticos, naturalmente, com as salutares divergências que devem pautar a actividade política. Nunca senti contestação de maior na AM. É justo dizer que a oposição tem tido uma atitude muito construtiva e muito proativa dentro da Assembleia Municipal. Percebe-se que se vive uma situação muito diferente daquela em que fomos eleitos. O debate é construtivo e, pelas razões apontadas, é normalmente cordato. Assim é, porque as pessoas são convenientemente esclarecidas e a CM tem tido o cuidado de, a par e passo, informar a Assembleia com clareza, como aconteceu com o caso da Água e dos esgotos cujo custo vai influenciar, significativamente, a gestão do município se não forem encontradas outras soluções. Naturalmente que, informadas, as pessoas têm outra postura, outra consciência e a tal atitude proativa. Os membros da AM são pessoas formadas e pessoas de bem e têm demonstrado isso. Desde que sou presidente nunca senti a discussão pela discussão, tirando uma picardia ou outra que de vez em quando aparece e que também é muito localizada. O caso mais saliente talvez tenha sido o da ETAR de Alvôco. Mas eu acho que esse tipo de discussão é normalíssimo.

CBS – Considera, por isso, não existir oposição ao atual executivo?
AL
– Oposição há. Mas não chega a ser oposição ao município. Se vir nas AM, o meu ilustre amigo João Dinis tenta servir-se da tribuna para dizer da sua indignação, que acho legítima, e que até pode ter razão. Já tive que, por dever de ofício, lhe explicar algumas vezes que não é a tribuna própria para aquele tipo de protesto, mas ele entende que todos os lugares são bons para fazer a “revolução”e, em abstrato, também defendo essa teoria. Agora, como digo há regras e normas. Mas relativamente ao trabalho do executivo, João Dinis e a CDU, têm tido, também, uma atitude proativa. Aliás, será muito difícil, aos senhores presidentes de junta estarem em oposição a este executivo.

A CM tem cumprido o que foi uma bandeira do PS. “Comigo não haverá presidentes de primeira e de segunda. Não farei de um bom presidente um mau presidente e de um mau um bom”, disse o então candidato e atual presidente. Esta é, porventura, a chave da pacificação. Esta Câmara teve a coragem de disponibilizar uma verba anual, significativa, que os senhores presidentes de junta distribuíram, eles próprios, de acordo com a sua vontade e critérios.

Hoje, as regras são claras e iguais para todos. Para além disso, nas grandes obras, a CM tem feito protocolos com as JF.. Este é, também, o grande motivo de consenso que se vive no nosso concelho. Basta andar por aí para vermos que há diferenças significativas. Construiu-se a estrada da Ponte do Salto-Seixo da Beira-Travancinha que foi programada no anterior executivo, mas foi executada pelo atual, temos o Centro Educativo de Nogueira do Cravo, obra para que se conseguiu um apoio significativo, a melhoria dos serviços de atendimento no edifício municipal, o alargamento da Zona Industrial de Oliveira, a estrada entre Oliveira do Hospital e Nogueira do Cravo, onde se fez uma correção significativa do projeto para que ficasse mais funcional.

Penso, não obstante a situação de crise que estamos a atravessar, este executivo tem feito pequenos milagres, como o saneamento e um conjunto de obras no Seixo da Beira, onde aconteceu praticamente uma “revolução”. Penso que a curto prazo se resolverá o problema da Avenida Carlos Campos, a central de camionagem , e que se afigura como um dos casos em que a atual maioria no executivo vai ser decisiva, já que, até agora, não se conseguiu consenso para aprovar, em sede de Câmara, estes importantes projetos.

Dentro das dificuldades financeiras, este executivo tem feito um bom trabalho e por isso o presidente da AM tem estado em uníssono com a Câmara e acho que ninguém de bom senso estará à espera que o presidente da AM tenha uma postura de oposição, pelo menos publicamente. Agora o senhor presidente da Câmara sabe que sou exigente e já o reconheceu publicamente. Os oliveirenses podem ter a certeza que o presidente da AM continua a ter o seu espírito crítico.

“O PS teve a humildade democrática, que se louva, de encontrar uma resolução estável para a gestão do Município”

CBS – O meio do presente mandato ficou marcado pelo alargamento do número de vereadores a tempo inteiro na Câmara Municipal, por via da admissão do antigo vice-presidente da autarquia e à data vereador independente. Conhecidas que eram as animosidades entre o anterior executivo e a equipa ganhadora nas últimas eleições como interpreta o último facto político, tendo também em atenção os diferendos que (António Lopes) mantém com o vereador em questão?
AL
– O senhor presidente, em tempo útil, consultou-me. A minha resposta foi aquela que tinha que ser e não poderia ser outra: se isso serve os interesses do município, o presidente da AM está aqui para servir os interesses do município. Foi esta a posição unânime da Comissão Política do PS e é esta, penso, a atitude da maioria dos oliveirenses. Sei que isso tem criado muitas confusões. Tenho sido “picado” relativamente a esse assunto. Estou muito à vontade e de consciência muito tranquila. Resulta da lei eleitoral, do princípio constitucional e da base da democracia que o poder, para ser legítimo, tem que ter uma base maioritária de apoio. Isto está em toda a legislação. Não sei porque é que isto cria tanta confusão a algumas”democráticas” mentes. O Sr. presidente da CM tentou arranjar uma maioria negociando com o grupo independente “Oliveira do Hospital Sempre”. Uma vez não conseguida essa maioria, nos últimos dois anos fez-se a gestão do possível. Honra lhes seja feita, porque a CM não obstante haver quatro vereadores da oposição e três elementos do executivo, tem mantido o sentido da responsabilidade e não tem sido por causa disso que a gestão não tem sido levada por diante. Naturalmente fazendo a gestão do possível.

Nunca se sabe qual é o dia em que esta paz e entendimento deixa de existir. Um executivo nestas condições, teria sempre dificuldade em cumprir o seu programa. Daí que eu entendi – e e entendem todos os executivos, salvo honrosas exceções – que sempre que há situações destas tem que tentar negociar uma maioria. Tendo surgido esta oportunidade – o senhor presidente da Câmara entendeu, e bem a meu ver, aproveitar o momento para tentar constituir uma maioria que, hoje existe, e que deve permitir ao executivo implementar o seu projeto. Eu próprio, já disse ao sr. presidente da CM que, a partir de agora, não tem desculpa para não implementar determinadas diretivas.

A verdade é que o eleitorado não deu maioria ao PS para governar sozinho. O PS teve a humildade democrática, que se louva, de encontrar uma resolução estável para a gestão do Município. Os tais “democratas” esquecem que a força que tem maior número de representantes na AM é o PSD, que tem 19 eleitos, enquanto o PS, que ganhou as eleições, tem 14. A verdade é que fui eleito presidente da AM com os votos de, pelo menos, três forças políticas, porque os 14 do PS e os oito do grupo independente Oliveira do Hospital Sempre não chegaram para ser eleito à primeira volta.. Eu fui eleito com 23 votos, portanto, pelos menos com os votos de três forças políticas.

A política é arte do possível – a expressão não é minha – e é isso que tem estado a ser feito e que teremos que continuar a manter, até que o eleitorado em próximas eleições, entenda decidir de outra forma, dando maioria ao atual executivo ou não. Para mim a solução Paulo Rocha foi uma boa solução e que eu defendo sem nenhuma ambiguidade pelos motivos que acabo de explanar.

CBS – Mas a admissão de Paulo Rocha também não deixa de ser atípica tendo em conta um passado bem recente…
AL –
Não vejo porquê. Desde o dia 26 de março de 2006 que a vida política em Oliveira do Hospital é uma vida atípica. Mas isso são questões de ordem partidária, onde eu não quero ir parar. Se a questão do vereador Paulo Rocha é atípica não é por causa do senhor presidente da CM tentar formar uma maioria com ele ou qualquer outro.

É atípica por questões marginais. Mas é também verdade que a lista onde esteve integrado Paulo Rocha teve mais de quatro mil votos e representa uma parte significativa. É verdade que também foi à sombra da bandeira do PSD. Eu quando fui confrontado com uma situação parecida entendi que o lugar era do partido, e saí. A verdade é que a lei diz que o mandato é do seu titular. Não fui eu que fiz a lei.

Agora a CM tem garantias de que poderá desenvolver uma política mais direcionada e mais baseada no seu programa, porque tem uma base de sustentação a nível da CM e, ao nível da AM não prevejo grandes problemas.

CBS – Não teme que os oliveirenses que acreditaram no projeto socialista do qual também faz parte se possam estar a sentir traídos? Qual o feedback que tem recebido?
AL –
Mas porquê? Acho que as pessoas que votaram PS não têm nada que estar aborrecidas, antes pelo contrário. Se fosse preterido um vereador do PS para meter um independente, aí estaria mal. Não é o caso. O eleitorado PS não conseguiu dar uma maioria absoluta ao executivo. Como tal, as soluções são sempre decisões convencionadas e com cedências. É evidente que esta solução pretende apenas e exclusivamente ter uma garantia política que permita tomar decisões políticas, conforme o programa do PS. Naturalmente é reconhecida ao Dr. Paulo Rocha capacidade para dar um contributo importante em algumas áreas da gestão municipal. Há desperdícios ao nível da gestão de água, eletricidade e não só, que se verificam há muitos anos e que interessa disciplinar. Há outras áreas que podem ser mais rentabilizadas. O vereador Paulo Rocha vai ganhar muito bem aquilo que vai custar, porque a CM tem noção clara de que há muitas áreas a precisar de otimização. O conhecimento da “máquina” que Paulo Rocha tem , não tenho dúvidas, é uma mais valia no executivo.

CBS – Sabendo que José Carlos Alexandrino entrou na corrida com o objetivo de destronar Mário Alves, como reage a afirmações como “identifico-me com Mário Alves na forma de gerir a Câmara Municipal”?
AL
– Só pode ter sido um “desabafo de ocasião”. Se assim fosse, outra seria a minha posição. Não sei se o objetivo algum dia foi o de destronar Mário Alves. Nós não fazemos política pela cara das pessoas. O que se pretendeu, os candidatos e o PS, foi “destronar” uma certa forma de estar e fazer política. É que, as vezes, as pessoas confundem as coisas. Eu cheguei a dizer ao anterior presidente da Câmara que ele era o presidente, mas não o dono da Câmara. A mim nunca ninguém me ouviu dizer que o professor Mário Alves não era pessoa honesta e íntegra. Ele tinha a sua forma de ver a gestão do Município e acredito que ele entendia ser o melhor caminho. Eu respeito as pessoas. Mas nós sabemos que nem sempre o resultado é aquele que deveria ser. Governamos para pessoas. Temos que entender o que é melhor para elas. Isso é que importa. Não é o que nós pensamos ou deixamos de pensar. Nesta perspetiva eu não vou dizer, nem nunca disse que o professor Mário Alves fazia tudo mal feito. O seu projeto, a sua forma de ser e de estar eram diferentes do nosso projeto e, os oliveirenses também entenderam assim. E por isso cá estamos. Não creio que essa expressão do sr presidente quisesse dizer identificação plena…nem pouco mais ou menos. Eu cheguei a oferecer ao sr. ex- presidente, um GPS, em plena Assembleia, para “aprender” o caminho até Lisboa. Ele respondeu que só lá ia gastar dinheiro, que resolvia com um e-mail.

Um dos grandes sucessos que esta Câmara está a ter, é precisamente no trabalho que o presidente da autarquia tem feito junto das entidades governamentais. Logo, não há identificação possível. Viemos hoje de atribuir prémios do Empreender + que é um projeto que faz muita confusão a alguns munícipes. A Plataforma está a funcionar com dinheiro que foi conseguido no governo central. Eu estou convencido de que vai ser o grande projecto deste executivo. Já há um conjunto diversificado de projetos aprovados com financiamentos garantidos. O Bio-Refina já viu aprovada a pré candidatura, em Bruxelas, para 118 milhões de Euros. Não sei se haverá algum investimento parecido em Oliveira do Hospital. Isto é um trabalho e uma iniciativa que se deve muito ao engenheiro António Campos que é o grande promotor da ideia e é uma das grandes apostas deste executivo. Penso que no curto-médio prazo aqueles que não acreditam e só vêem favores a amigos, hão-de um dia reconhecer o grande trabalho que está ali. Também eu tive algum ceticismo no início, mas neste momento, não tenho. É uma das grandes esperanças e acho que vai ser o projecto que vai marcar este executivo. A posição de Mário Alves, ao que me é dado saber, é de descrença neste projecto.

CBS – Alexandrino assume-se como um homem de consensos. Concorda com esta postura ou estava à espera de um presidente mais acutilante?
AL –
O presidente, tal como todos nós, é homem de consensos mas também não é todos os dias. Somos homens de consensos, mas também somos homens de compromisso. E nem sempre o compromisso com o eleitorado é compatível com o consenso. É por isso que mais uma vez, o presidente da AM, que sou eu, disse sim à solução da maioria. O que ninguém tem dúvida é que a postura deste executivo, no seu conjunto, não tem nada que ver com aquilo que encontrámos. Eu e o presidente da CM – eu menos porque não resido no concelho – já visitámos todas as freguesias do concelho mais vezes nestes dois anos, do que o anterior presidente da Câmara nos 16 anos que lá esteve. Não tenho qualquer dúvida em afirmar isso. Serão muito poucas as freguesias que não vêem o senhor presidente da Câmara na freguesia pelo menos uma vez por semana. Há muitas freguesias que vêem lá o senhor presidente da CM quase todos os dias e não vêem mais porque também é preciso ir a Lisboa e outros locais de interesse para o município. Hoje as pessoas entram no gabinete do presidente da CM como e quando querem. Os presidentes de Junta, incluindo os do PSD, são os primeiros a afirmar que não tem nada que ver o tratamento anterior com o atual. Para a questão do consenso e grande sucesso deste executivo contribui de forma arrebatadora e inquestionável a postura que este executivo tomou com as juntas de freguesia.

Os críticos andam sempre a perguntar onde estão as obras dos 100 dias. No próximo boletim municipal vão sair as obras que foram feitas por freguesia. Que vejam lá. Neste executivo há transparência e qualquer munícipe pode ter acesso à informação do que é gasto por freguesia. A CM criou um gabinete de apoio às freguesias, onde está permanentemente um responsável que transmite as preocupações dos presidentes de JF ao presidente da CM e consegue dar respostas ou soluções. Há outro clima de diálogo e outro tipo de colaboração. Mas, quando a resposta é não, também sei que ela é clara e na hora. Não há ambiguidades. Honra seja feita ao executivo. Eu sou uma pessoa que provoco um pouco as discussões para saber as reações e sei que há um sentimento de satisfação, generalizado, dos senhores presidentes de JF, mas não só.

CBS – Uma das atuais preocupações dos oliveirenses prende-se com o futuro da ESTGOH no concelho. Como olha para os últimos episódios? Continua a acreditar que de facto há quem queira passar um atestado de óbito a esta escola de ensino superior?
AL –
O problema da ESTGOH prende-se com a situação do país. O que é verdade é que há menos capacidade financeira para as pessoas andarem na universidade. As famílias estão depauperadas e as escolas começam a ter dificuldade na quantidade de alunos para preencher as vagas e, naturalmente, que quem está nos lugares cimeiros da decisão tenta encontrar soluções. O que está aqui em causa, é que o que é bom para o presidente do IPC, se calhar não é bom para os oliveirenses e para a nossa região. A vida é assim e estamos perante um conflito de interesses. Naturalmente interessa-nos defender a ESTGOH porque é fundamental e primordial para o concelho e a região e, isso não se compadece com o eventual interesse do IPC. Ora o que nós dizemos é que Coimbra e a sua região têm muitas ofertas e muitas vezes repetidas e entendemos que Oliveira do Hospital, que está a 80 quilómetros, não pode deixar de ter aqui uma estrutura de ensino superior como já tem.

Daí que nos vamos bater, até ao limite das nossas forças, para a manter. Nos últimos tempos, desde que este problema surgiu em Agosto, tem havido todo um trabalho de bastidor a vários níveis. É um mérito só da Câmara. Eu só estou aqui a dizer o modo como o presidente da AM tem visto este processo e que é um apoiante como tem obrigação de ser das políticas que têm sido seguidas, porque me identifico com elas e sei do esforço que tem sido desenvolvido pela Câmara Municipal, mas também por todos os dirigentes concelhios, deputados distritais e todos os que se preocupam com Oliveira do Hospital e a região. Na ESTGOH tem sido feito o possível e o impossível. Neste momento, a questão do encerramento está posta de parte o que não quer dizer que as soluções encontradas sejam as que melhor servem os interesses dos oliveirenses e ESTGOH. O caminho faz-se andando e quanto mais tempo tivermos para fazer valer a nossa razão e para combater pelos nossos princípios e objetivos, quero pensar que melhor será a solução.

“Se calhar está na altura de o governo PSD também fazer uma “gracinha” e fazer uma parte (IC6) para ficar com alguma paternidade no projeto”

CBS – Os IC continuam na corda bamba. A luta parece não esmorecer por parte dos autarcas. Mas acredita que o IC6 ainda venha a servir Oliveira do Hospital no atual mandato?
AL –
É evidente que as pessoas bem formadas sabem muito bem que a Câmara não se tem cansado de lutar. Há uma luta constante e tenaz pelo IC6. O senhor presidente disse e bem, em campanha, que os IC são uma prioridade e hão-de ser sempre. Mas uma coisa é o que queremos que aconteça, outra coisa é aquilo que é possível. A nossa oposição (o PSD) se quer mesmo os IC tem o problema resolvido. O governo é do PSD. Eles com uma mão e a CMOH com as duas. Quando se vem criticar a Câmara, vem se dizer que a Câmara é contra? Se o PSD é a favor então o que é que falta? A Câmara quer e se o PSD quer, avancemos. Mas nós sabemos que a realidade é outra e que no anterior governo, o PSD, taxativamente, disse “mais auto-estradas não” e foi isso que prendeu.

O anterior secretário de Estado veio cá diversas vezes, mas também já tinha o problema que tem o atual, porque uma coisa é querer fazer a obra e outra coisa é ter dinheiro para isso. Mas também sabemos que se vai continuando a gastar dinheiro que é passível de crítica, por esse País fora. Nós continuamos a lutar pelo IC6 e continuação até à A25. As três câmaras beneficiadas por esse traçado – Oliveira, Seia e Gouveia, continuam emanadas e têm estado a trabalhar por esse objetivo. Por isso, eu acredito que pelo menos o IC6 e seu prolongamento até Celorico da Beira será uma realidade a curto prazo. Se é neste mandato, não sei. Que está tudo feito para que o projeto vá a concurso e as obras comecem, está. Ainda esta semana houve pressão no sentido de o problema se resolver e acredito que se vai resolver até pela justiça e justeza da decisão e pela grande necessidade que representa nesta região da Beira Serra.

CBS – Se tal não acontecer, encara tal facto como uma derrota para o projeto que integra?
AL
– A derrota será sobretudo para os oliveirenses e para a região. Este projeto já anda no papel há muitos anos e já teve dinheiro inscrito do Orçamento de Estado não sei quantas vezes, já lá passaram vários governos PS e PSD. O que é verdade é que os dois troços existentes foram feitos em governos PS. Se calhar está na altura de o governo PSD também fazer uma “gracinha” e fazer uma parte para ficar com alguma paternidade no projeto. Pessoalmente não fico nada invejoso, nem aborrecido. Pelo contrário, fico satisfeito e só ficaria bem ao atual governo satisfazer esta nossa velha aspiração.

CBS – O concurso para exploração do Café Central está envolto em grande polémica. Como observa este caso?
AL –
Isto é uma discussão de quem não tem nada para discutir. Até digo isto com uma tristeza grande, porque aconteceu numa semana em que o presidente da CM travou uma luta dura de bastidor, na surdina, para se resolver mais ou menos de vez o problema da ESTGOH. O presidente da CM esteve também em Lisboa para resolver o problema do custo da água e saneamento que é, talvez, o que mais nos preocupa neste momento. Já foi dito numa Assembleia que o custo da água e saneamento – este ano já entrou uma série de ETARS em funcionamento e há outras para entrar – absorve todas as verbas disponíveis e impede o município de fazer outras obras. Com todos estes problemas em que a Câmara tem estado empenhada para encontrar soluções, arranja-se um ‘fait divers’ para discutir quem é que vai servir os cafés. Houve um regulamento que foi cumprido, o júri nem sequer é o executivo da CM e o assunto ainda nem foi a reunião de Câmara e não se sabe a discussão que vai dar. As pessoas têm possibilidades de reclamar e recorrer aos tribunais e queremos que isso funcione dentro da transparência e legalidade. Agora, a Câmara não tem poderes para excluir concorrentes. Aquilo é sequer um assunto, em termos de gestão municipal, que mereça essas preocupações todas? Acho que temos obrigação e estamos fadados para coisas maiores.

CBS – Mas também não se pode esquecer que o anterior explorador ficou a dever uma quantia bastante elevada à Câmara Municipal?
AL –
Se ficou a dever a questão está em tribunal. O homem também pôs a CM em tribunal. Mas porque é que as pessoas não deixam as instituições funcionar? As pessoas elegem-nos para resolver os problemas, mas depois, no dia seguinte, parece que não confiam em nós. Se não confiavam, não nos davam o voto. Se nós fizermos mal, nas próximas eleições façam de sua justiça e ponham-nos na rua. É um direito que lhes assiste. E iremos com a mesma humildade democrática com que viemos.

CBS – O início do novo ano ficou marcado pelo encerramento de mais uma empresa no concelho que deixou 40 trabalhadores sem emprego. Tendo em conta a situação atual do país como perspetiva os próximos tempos para o tecido empresarial concelhio?
AL –
Isto é a lei da vida. Ao mesmo tempo que alguns de nós vamos morrendo no concelho, outros vão nascendo. As empresas nascem, crescem e quando deixam de crescer morrem. Isto está a ser discutido há 35 anos. Nós sabemos que Álvaro Cunhal, pessoa que me é muito querida, disse um dia, aqui na Bobadela, que o ‘made in China’ ia destruir o têxtil e na altura chamaram-lhe de tudo. Aquelas empresas que se foram modernizando e foram capazes de acompanhar os tempos e que criaram condições foram conseguindo combater e estão aí. Nós temos aqui empresas com sucesso mesmo no têxtil. A Davion está a trabalhar bem, a Irsil que eu saiba também está a trabalhar bem… Há outras empresas que por vários motivos, pelos ramos em questão e pelo setor não se conseguem manter. Isto depende, por vezes mais, de fatores externos, do que da capacidade dos nossos empresários.

CBS – Como avalia o papel da autarquia neste domínio?
AL –
A CM pode ajudar e apoiar, mas não poder ir muito mais além disso. Que eu saiba a CM tem feito tudo o que está ao seu alcance e tem estado ali de portas abertas para receber e ajudar toda a gente. Acho que ninguém pode acusar a CM de que não tem tentado tudo e que não tem estado disponível na procura de soluções. A juventude tem que procurar outras soluções e vi com muito agrado a atribuição dos prémios aos três projetos vencedores do Empreender+. A minha grande esperança na plataforma é de que, de facto, consigamos fazer empresas de menor dimensão e maior capacidade de flexibilidade e de criação de produtos de excelência para irmos combatendo este flagelo do desemprego. Vejo muita gente a virar-se para a área agrícola, numa perspetiva mais moderna e nós cá estamos contra todos os incrédulos a apostar na Plataforma e encaminhar as pessoas.

CBS – Não comunga, por isso, da opinião de que o melhor para os nossos jovens é a emigração?
AL –
Eu felizmente nunca fui para o estrangeiro. Vivi 21 anos na Região Autónoma da Madeira. Neste momento, até por causa do falecimento de um irmão meu, vou ter que passar muito tempo em Cabo Verde onde tenho interesses bastante grandes. Mas também se não tivesse dado o salto, não teria se calhar conseguido situações de algum sucesso, que consegui noutras paragens. Penso é que temos que lutar para que as coisas aconteçam na nossa terra.

“Entendo que ele (José Carlos Alexandrino)  tem feito um bom trabalho e não quero ser eu a dar-lhe argumento para não se recandidatar”

CBS – Numa altura em que entre os partidos se afinam acordes e se começam a perfilar nomes, pondera uma recandidatura à presidência da Assembleia Municipal?
AL –
Acho que é muito cedo para se falar nesse assunto, no entanto já fui dizendo a quem de direito, e também ao PS, que por questões de idade e saúde – passei infância muito complicada e muitos anos de mina – não estejam “agarrados” a mim. O meu único objetivo foi o de mudar a forma de estar na política que existia. Penso que consegui esse objetivo e considero que a minha missão em Oliveira do Hospital está de alguma forma cumprida. Eu não sou um homem de poder. Bem pelo contrário. Ando por amor às causas e a maior forma de remuneração que um político pode ter é a satisfação do dever cumprido e, nesse aspeto, sinto-me realizado e bem remunerado. Não é por aí. Não resido no concelho e como tal não me sinto satisfeito, porque não tenho condições de dar aquilo que me sinto obrigado a dar. Sinto que tenho obrigação de dar mais. Alguns presidentes de JF andam zangados comigo porque me convidam e eu não apareço. De facto estou em falta com alguns. Apresento-lhes as minhas desculpas. Não estou em tantas situações como gostaria de estar e eu critico-me a mim mesmo.

Se calhar eu já tive o meu tempo e já cumpri a minha missão e reconheço que em Oliveira do Hospital há muito boa gente, mais bem colocada que eu, para estar no meu lugar que está permanentemente à disposição quer do PS, quer do presidente da CM, quer dos oliveirenses e, especialmente dos senhores deputados municipais que a todo o tempo têm poder para o alterar.

O que o senhor presidente da CMOH me tem dito é que entrámos neste projeto os dois e que havemos de sair os dois. Isso efetivamente cria-me algum problema de ordem moral. Não tenho a importância que me é atribuída, mas reconheço que tenho alguma responsabilidade na solução encontrada.

Fico com algum problema de consciência e sou sensível a esta argumentação dele. Se eu o conseguir convencer a dispensar-me, eu não serei com certeza candidato. Se assim não for, terei que decidir na altura própria, ainda que o meu estado de espírito seja não. Entendo que ele tem feito um bom trabalho e não quero ser eu a dar-lhe argumento para não se recandidatar.

CBS – Acima de tudo está a continuação de Alexandrino no comando do município oliveirense…
AL –
Ele já começou a entrar nos processos e eu penso que ele está neste momento entrosado. É uma pessoa de trato fácil e com muita empatia e que facilmente chega à fala com as pessoas. Naturalmente também com as instituições governamentais. O senhor presidente, juntamente com José Francisco Rolo, fazem uma boa equipa, nas questões de ‘negócios estrangeiros’ e têm feito excelente trabalho e estamos todos em dívida para com eles. Acho que este trabalho deveria ter continuidade. Espero que se consiga uma maioria estável e espero continuar a ver esta equipa à frente dos destinos do Município. No que depender de mim…

CBS – Como é que estão as suas relações com o partido com o qual o senhor se assume ideologicamente ligado, o PCP?
AL –
Eu sou um homem de palavra, de princípios e de convicções. Sou dos que pensam que quando se entra naquela organização já não se sai. Saí de lá, fisicamente, nas circunstâncias que todos sabem. Ideologicamente hei-de lá morrer e estou à vontade para dizer isto, porque toda a gente sabe que no dia em que aceitei a candidatura do PS disse isso e que desejava voltar. Se as circunstâncias o permitirem voltarei efetivamente. Agora há uma coisa que tem que ficar clara. Sou um homem de princípios e assumi um compromisso com o concelho e com o PS e enquanto estiver neste lugar – como dizia D. Carlos dos oficiais da marinha – mesmo não sendo PS, podem ter a certeza que tentarei portar-me melhor do que os que o dizem ser. É isso que eu tenho feito. Ao nível das autarquias, as siglas e as ideologias valem o que valem. Vota-se nas pessoas pelo que elas são e daí não ter havido conflito com ninguém.

Politicamente não é muito correto, estar neste lugar, à sombra de uma bandeira e afirmar o que acabei de afirmar. Mas eu quero ser conhecido como uma pessoa de bem e de verdade e não quero ser conhecido por hipócrita. Agradeço aos oliveirenses por me terem elegido e por o meu ideal não os ter inibido a isso. Tenho feito tudo para não desmerecer ou desiludir. Se eventualmente decidir continuar e eles decidirem que faço parte da solução, podem ter a certeza que a nossa linha de conduta será esta. Respeito toda a gente de todos os quadrantes.

Enquanto presidente da AM sinto algum conforto quando vejo os líderes dos partidos, quer a Drª Sandra Fidalgo, quer a Drª Maria José Falcão de Brito a assistir aos trabalhos nas Assembleias, o que a mim me dá particular satisfação, porque assim se vê o empenho de todos em fazer alguma coisa pelo nosso concelho.

Nota: A entrevista com o presidente da Assembleia Municipal marca o arranque de um conjunto de entrevistas que o correiodabeiraserra.com vai realizar junto de autarcas e responsáveis políticos concelhios, com o objetivo de efetuar um balanço ao atual mandato autárquico.

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