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Duas décadas passadas, dois presidentes de Junta de Freguesia, autonomia administrativa e melhorias a todos os níveis. A apreciação é feita pelos que convidados a recuar no tempo falam sem preconceitos sobre o processo de elevação de Vila Franca da Beira a freguesia. A publicação em Diário da República data de 23 de Maio de 1988.

 

Protagonistas da criação da freguesia de Vila Franca da Beira recordam o passado

O mérito é atribuído ao falecido António Marques Frade, mas o processo de elevação a freguesia tem também a marca do pulso firme dos que levaram por diante a pretensão dos vilafranquenses até então afectos à freguesia de Ervedal da Beira. Sublinhe-se que até 1977 a povoação se designava Vila Franca do Ervedal e que foi precisamente do lado de Ervedal da Beira que fizeram eco as vozes de descontentamento pelo corte territorial. O presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital e a presidente da Junta de Freguesia de Ervedal da Beira, António Simões Saraiva e Esmeralda Pombo Albuquerque, respectivamente, foram os Imagem vazia padrãomais fustigados pela crítica dos que não se compadeciam com a decisão da Assembleia de República. Hoje, passados 20 anos, permanecem as memórias, mas esvaíram-se os ressentimentos.

“Vila Franca da Beira tinha todas as condições para ser Junta de Freguesia e eu fiquei muito satisfeito”. A afirmação pertence a António Simões Saraiva que, instado pelo Correio da Beira Serra a recordar o processo, garante “não ter feito mais do que dar aqueles passos burocráticos para que o processo seguisse”. É que “se não o fizesse estaria a cometer uma ilegalidade”. Ao CBS nega que alguma vez tivesse sido injuriado, preferindo realçar que “algumas pessoas compreenderam com mais dificuldade o processo”. “Já todos entenderam que eu não fiz mais do que a minha obrigação. Tudo passou e as pessoas aceitaram”, acrescentou Simões Saraiva, compreendendo que “os cortes de cariz territorial possam trazer alguns traumas”. Lembrou que o que aconteceu com Vila Franca da Beira em 1988 também aconteceu com centenas de freguesias que se encontravam nas mesmas circunstâncias.

 

O abaixo-assinado entrou na Junta de Esmeralda Pombo

Imagem vazia padrãoNo arranque da sua actividade a nível autárquico, Esmeralda Pombo Albuquerque lembra que tudo começou com um abaixo-assinado que reclamava pela elevação de Vila Franca a freguesia. “Depois de reunir o maior número de votos em Assembleia de Freguesia, encaminhei o processo para a Câmara Municipal que depois agilizou os procedimentos para chegar à Assembleia da República”, explicou de forma sucinta a então presidente da Junta de Freguesia de Ervedal, fazendo questão de deixar claro que o executivo que liderava “não tinha direito a voto, apenas tinha que encaminhar”. “Fui mal interpretada”, conta agora passados 20 anos, guardando na memória episódios que prefere não relatar. “Sofri represálias, mas não vou falar porque muito havia para dizer”, sublinhou, fazendo também questão de frisar que sempre se deu bem com as pessoas de ambas as povoações e espera assim continuar. A então presidente eleita pelo PSD garante estar de “consciência tranquila” porque fez tudo dentro da “legalidade”. “Foi pena que as pessoas não tivessem o discernimento suficiente para perceberem que o executivo não votava”, lamentou, deixando também claro que “se fosse hoje voltava a fazer tudo da mesma forma” porque “acima de tudo está a dignidade da pessoa humana”. Convidada a olhar para a realidade actual das duas freguesias, Esmeralda realçou o facto de Ervedal ter reduzido o seu número de eleitores e de Vila Franca ter ganho a “autonomia que os populares desejavam”.

“Tínhamos cá um senhor fora do vulgar que gostava que fossemos como as outras povoações”

Imagem vazia padrãoPorque – garantem os vilafranquenses – as melhorias foram a todos os níveis, o empenho dos que lutaram pela desanexação da povoação acaba por ultrapassar todos os dissabores políticos. A António Marques Frade nunca mais vai ser retirado o mérito e nem os vindouros o vão deixar cair no esquecimento. “Na comemoração dos 15 anos da freguesia prestámos-lhe uma homenagem”, contou o agora presidente da autarquia João Dinis. E, Manuel Augusto da Silva – o conhecido “senhor Adão” – não se poupa nas palavras para enaltecer o trabalho desenvolvido pelo companheiro de luta. “Tínhamos cá um senhor fora do vulgar que gostava que fossemos como as outras povoações”, contou, referindo-se ao “doutor Frade” que “fez de tudo para que o processo fosse por diante”. “Se não fosse ele, os papéis não tinham entrado naquele dia na Assembleia da República”, recordou, realçando que aquele era o último dia para a entrega dos documentos, porque no dia seguinte ia entrar em vigor uma alteração à lei. “Ele tratou de tudo”, insistiu, não escondendo a satisfação por agora a população poder comemorar os vintes anos de elevação a freguesia. Destacou também as melhorias que daí resultaram como a chegada do posto médico e os arranjos das ruas.

Artur Campos Júnior estreou lugar de presidente de Junta

Foi a Artur Campos Júnior que coube estrear o lugar de presidente na recém-criada Junta de Freguesia. Num processo de eImagem vazia padrãoleições intercalares que arredou Esmeralda Albuquerque – a autarca não se recandidatou – da autarquia de Ervedal da Beira, o social-democrata conseguiu uma maioria absoluta, em Vila Franca da Beira, que foi repetindo até finalizar o quarto mandato – o primeiro mandato foi o mais curto –, altura em que entendeu ser o momento de sair de cena. Sobre o papel que exerceu no cargo agora ocupado por João Dinis, o ex-autarca de Vila Franca da Beira diz ter as melhores recordações, garantindo que “tudo correu pacificamente” porque “o povo de Vila Franca é pacífico desde tempos imemoriais”. Confessa ter sido apanhado de surpresa quando abordado para uma candidatura pelo facto de se encontrar há apenas quatros anos com residência fixa na localidade. Numa análise ao processo de elevação a freguesia, Artur Campos Júnior não hesita em referir que “Esmeralda Pombo Albuquerque foi uma sacrificada política porque os do Ervedal nunca lhe perdoaram” e em lembrar que “António Simões Saraiva também foi vaiado, até por pessoas que lhe deviam muitas obrigações”.

Campos Júnior entra na história da freguesia como o primeiro autarca, mas ao CBS desvaloriza a situação. “Sinto-me da mesma forma do que antes de ter sido eleito. O facto de me terem eleito como o primeiro presidente não significa absolutamente nada, a não ser o que estava dentro da minha capacidade para fazer o melhor por Vila Franca da Beira, que é uma terra que continuarei a adorar”, afirmou.

Sobre o que mudou na povoação, Artur Campos Júnior, agora com 72 anos de idade, fala de “uma evolução sem comparação” quer em matéria de autonomia, quer das melhorias físicas, nomeadamente empedramentos e outras beneficiações. Confessa estar “alheado” do que é a realidade da freguesia pelo facto de passar a maior parte do tempo no quintal, preferindo por isso “não emitir opinião sobre o trabalho” levado a cabo por João Dinis

“António Lopes tem feito uma coisa bestial pela terra”

Imagem vazia padrãoNão se envolveu na criação da freguesia, mas integrou a primeira Assembleia de Freguesia pelo PSD, embora por um curto período. Aos 70 anos, Fernando Marques Ribeiro também atribui ao “doutor Frade” o mérito da elevação da freguesia. “Foi ele que fez tudo. Devemos-lhe tudo”, referiu o barbeiro dos vilafranquenses que ainda recorda a satisfação alcançada, pese embora “o sabor amargo” que causou aos ervedalenses. Não poupa as palavras para enaltecer tudo quanto foi feito pela povoação, quer no executivo de Campos Júnior, quer de João Dinis. Mas, mas é no conterrâneo António dos Santos Lopes que reconhece a contribuição para a realização de grande parte das benfeitorias. “Tudo se modificou também com o apoio de António Lopes que tem feito uma coisa bestial pela terra”, sustentou o septuagenário, ao mesmo tempo que elogiou o autarca em exercício. “Embora seja de outra cor partidária, é um rapaz que não o podem substituir porque não há cá outro capaz de o substituir”, asseverou em referência a João Dinis.

 

“Farei tudo o que posso e não me calarei um só segundo”

Imagem vazia padrãoEleito pelo PCP desde 2001, o camarada político do benemérito António Lopes – que solicitou a suspensão do lugar de presidente da Assembleia de Freguesia – revela-se “comprazido com a emancipação administrativa” alcançada pelos vilafranquenses. “Acredito que o poder descentralizado é tanto melhor, quanto mais próximo estiver das pessoas”, sentenciou João Dinis, ao mesmo tempo que elogiou a determinação dos que encetaram o processo, com destaque para António Marques Frade, pessoa a quem a Junta prestou homenagem por ocasião do 15º aniversário. Sobre a postura assumida pelos presidentes da Câmara e da Junta de Ervedal na época, Dinis, entende que “souberam respeitar a vontade dos vilafranquenses”.

O autarca que é de opinião de que “em 2001, com a eleição da CDU, a autarquia foi devolvida à população”, refere-se à possibilidade de o povo eleger os seus próprios órgãos autárquicos como a conquista primeira, a que se seguiu a implementação, um ano depois, do Posto Avançado de Acompanhamento a Idosos. “Foi um benefício óbvio, embora esteja ameaçado o seu funcionamento”, lembrou o autarca, recordando o período de 15 dias em que a resposta de saúde esteve encerrada. O posto de saúde reabriu depois da – como disse – “muita pressão que se fez”.

A autonomia em torno da elaboração dos planos de actividade é também referenciada por Dinis como uma conquista de há 20 anos, embora lamente a “grande limitação” em matéria de verbas disponibilizadas pelo Orçamento de Estado e que se traduz “na dependência da Câmara Municipal”. “Temos a sorte de ter dois beneméritos locais: Manuel Escada Almeida e António dos Santos Lopes, cuja generosidade permitiu fazer todas estas obras”, confessou o eleito local que garante “fazer o que pode para servir os conterrâneos como é objectivo dos autarcas eleitos pelo PCP e CDU, com o maior respeito pessoal e democrático por todos”.

Conhecido pela sua frontalidade, João Dinis acabou de inaugurar a requalificação do Parque Merendeiro da freguesia, mas não se escusa em continuar a reivindicar pela melhoria das condições de vida dos vilafranquenses. A construção de um novo depósito de água, de um pavilhão polivalente e a resolução dos problemas da ETAR costumam integrar o rol de solicitações comummente remetidas ao executivo camarário. “Sinto-me profundamente ligado e identificado com os meus conterrâneos e farei tudo o que posso e não me calarei um só segundo”, esclareceu.

A generosidade de António Lopes

Imagem vazia padrãoCom fortes raízes em Vila Franca da Beira – nasceu em Unhais da Serra mas migrou ainda de tenra idade com os pais para Vila Franca, onde frequentou a Escola Primária – António Lopes não poupa esforços em prol da povoação que o viu crescer. A generosidade pela terra que o acolheu não é de agora e na prática já se cifra nos 250 mil euros. “Farei sempre tudo o que estiver ao meu alcance”, afiançou ao CBS, ao mesmo tempo que destacou o trabalho que tem vindo a ser dinamizado pela Junta de Freguesia, em colaboração com a Câmara Municipal de Oliveira do Hospital.

António dos Santos Lopes foi eleito, nas últimas autárquicas, presidente da Assembleia de Freguesia de Vila Franca da Beira. Demitiu-se do cargo no final de 2007, mas garante que, conjuntamente, com o executivo liderado pelo “camarada João Dinis” sempre “foram feitos os possíveis para dotar a freguesia das questões mais elementares ao nível dos arruamentos e outras infra – estruturas”.

Num olhar pelos últimos 20 anos, coloca ênfase na conquista da “autonomia” que entende como motivadora por um maior “empenhamento” em prol da localidade. “Houve um progresso significativo”, considerou o empresário que aquando da demissão de presidente da Assembleia de Freguesia deixou escrito o compromisso de contribuir com um subsídio anual de 50 mil euros para a freguesia. “Se me correr tudo como eu espero, estarei em condições de cumprir com a minha palavra”, referiu, sublinhando que no corrente ano já comparticipou com 20 mil euros.

 Liliana Lopes

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