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Ao Partido Socialista, quase só faltou utilizar a célebre frase “Até amanhã camarada” – uma frase que em finais de 1974 serviu de título ao livro de Manuel Tiago, pseudónimo de Álvaro Cunhal –, para se “despedir” do deputado municipal da CDU, António Lopes, que na última Assembleia Municipal (AM) do ano, dia 22 de Dezembro, suspendeu o mandato pelo período de um ano.

Até amanhã camarada

"Imagem vazia padrãoAcho que o senhor tem sido uma voz importante nesta Assembleia Municipal, contrariamente a algumas que há por aqui que nunca se fazem ouvir (…) espero que não vire costas ao concelho. Penso que o senhor é uma pessoa generosa”, afirmou o deputado do PS, Carlos Maia, que fez questão de sublinhar que não só nutre “admiração” pela “frontalidade” daquele eleito da CDU, como também “comunga de muito daquilo” que Lopes “disse” nas assembleias municipais. (…). “Mas faz mal em virar as costas, até porque o senhor está dentro de um partido que não tem muito o timbre de virar costas”, criticou no entanto aquele membro da AM, que só soube da notícia já em plena assembleia.

O presidente da Assembleia Municipal poderia ter “mediado este conflito entre o senhor presidente da Câmara e o senhor António Lopes, para não termos perdido este homem”.

 

Também da bancada socialista, José Carlos Alexandrino, que ressalvou o facto de manter “uma relação de amizade e de admiração com António Lopes”, disse que era com “mágoa” que via partir o deputado da CDU, porque – conforme sustentou –, “foi uma voz sempre em defesa das populações”. “O nosso concelho perde… sou um dos críticos da forma como ele muitas vezes se posiciona, mas sei a lealdade e a honestidade com que ele desempenha o lugar”, salientou aquele deputado socialista, que invocou o nome do presidente da Assembleia Municipal – Simões Saraiva esteve ausente nesta última sessão do ano – como alguém que poderia ter “mediado este conflito entre o senhor presidente da Câmara e o senhor António Lopes, para não termos perdido este homem”.

Insurgindo-se contra o facto de haver quem considerasse que Lopes “dava dinheiro para aproveitamento político” –“isso não é verdade”, disse José Carlos –, aquele eleito socialista salientou que “a política é uma coisa e o dinheiro do António Lopes é outra”. Manifestando a convicção de que o deputado comunista “vai regressar, porque não é homem para desistir”, José Carlos destacou os vários apoios financeiros que o conhecido benemérito deu a instituições concelhias e a “ajuda preciosa” que deixou, por exemplo, numa “das mais importantes obras da Cordinha dos últimos anos” – o Lar de Idosos, em Ervedal da Beira, que abre portas no segundo dia do ano de 2008: “o António Lopes deu 20 mil contos e a Câmara Municipal 30 mil”, especificou.

Mas os elogios ao deputado que nas autárquicas de 2005 foi eleito com mais de 800 votos, vieram ainda de outras figuras de peso do PS local. “É uma pessoa que gera facilmente relações afectivas com todos nós” e que “tem tido um discurso diferente”, referiu Rodrigues Gonçalves, explicando que da mesma forma que lamentou o “desaparecimento do CDS desta Câmara”, também o faz relativamente “à saída” de António Lopes. A terminar, coube a vez ao líder da bancada socialista, Carlos Mendes, de agradecer a participação política de Lopes naquele órgão autárquico. “Obrigado por ter estado connosco… este concelho também precisa de si. Vá, mas não deixe Oliveira do Hospital”, disse aquele que é o mais antigo deputado socialista do PS na AM.

Autarca de Meruge opta pelo silêncio e João Dinis diz que “ele não vai embora… vai andar por aí!”

 

De entre os seus pares, João Dinis, da CDU, considerou que “António Lopes faz falta nesta Assembleia Municipal e ao concelho”, e lamentou que as “outras bancadas político-partidárias” da AM e do executivo camarário não tenham tido “a genica, a firmeza dos eleitos CDU e de António Lopes em particular”. Se assim fosse – referiu aquele autarca – “outra e melhor situação teríamos no concelho, pelo menos em alguns âmbitos”. Dinis dirigiu-se ainda ao presidente da Câmara, porque – segundo sublinhou – se Mário Alves “se predispusesse a ouvir mais e a ter em melhor conta as propostas e sugestões que lhe são feitas, outra e melhor situação teríamos no concelho”.

Recorrendo à célebre frase que marcou a passagem de testemunho de Santana Lopes a José Sócrates no lugar de primeiro-ministro, João Dinis, que no mesmo dia também assistiu à renúncia de António Lopes à presidência da Assembleia de Freguesia de Vila Franca da Beira, foi irónico: “ele não vai embora… ele vai andar por aí!”.

Quem optou por um silêncio algo ensurdecedor face à retirada de cena política de um camarada de partido, foi entretanto João Abreu, que preferiu informar a Assembleia que “a história da ADSL em Meruge está praticamente resolvida”. “Vale a pena falarmos nos problemas e insistir neles para que eles se possam resolver”, afirmou o autarca da CDU.

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